Uma breve reflexão sobre Leandro Karnal.

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É inevitável olhar para Leandro Karnal e não se lembrar de Michel Foucault, não pela a aparência física, mas pela habilidade inata com que ambos conseguem convencer grandes multidões por meio das mais bem elaboradas construções sintáticas.

Conheci Leandro Karnal há pouco tempo – não pessoalmente – através de uma entrevista no programa Roda Viva e por mais duas palestras suas – dentre várias disponíveis no youtube. É óbvio que eu não posso dizer quem é Leandro Karnal apenas por essas três referências, entretanto é absolutamente possível traçar as primeiras linhas do seu perfil como pessoa e docente.

É inegável que Karnal é um homem notável pela sua inteligência e especialmente pela sua eloquência. Possuidor de uma tranquilidade que às vezes chega a ser perturbadora, demonstra com ampla fluência conhecimentos sólidos nos mais importantes pensamentos filosóficos dos períodos históricos mais relevantes da humanidade. Embora se declare ateu convicto, reconhece a importância que a influência religiosa teve em sua formação e respeita a opção do indivíduo que escolhe fundamentar os seus conhecimentos no mesmo sistema.

Embora Karnal demonstre ter notáveis atributos positivos, eu, particularmente, tive certa dificuldade em visualizar o alvo principal de seus discursos. Vou além: Em alguns momentos é possível perceber certas incongruências em sua fala, especialmente quando ele se refere ao modo de operação individualista do homem, quando a evidência empírica nos mostra algo totalmente diferente; a saber, que tudo hoje em dia é produzido e distribuído para o coletivo e não para o individual. O pensar e agir hoje é coletivo, ao passo que o individualismo é cada vez mais rechaçado em todas as instâncias públicas e privadas. Pensar individualmente se tornou perigoso e mal visto hoje em dia. Nisso Karnal falha. Outro ponto, Karnal critica abertamente os mecanismos de autoajuda – e as motivações de tais críticas são perfeitamente compreensíveis e aceitáveis –, mas, curiosamente, faz com que as suas apresentações públicas em nada se diferenciem das palestras de autoajuda, por exemplo, de Augusto Cury, exceto pelo fato dele ser veementemente realista e projetar para o seu público a riqueza e a beleza do pessimismo encontrado, por exemplo, em Schopenhauer, em meio a muitos malabarismos e construções exegéticas refinadas. Em uma de suas palestras defende subjetivamente o método Paulo Freire quanto à flexibilização da linguística e a liberdade da fala e escrita – livres dos sistemas opressores de dominação –, mesmo que errados, desde que se faça compreender. Ao mesmo tempo critica os efeitos dessa flexibilização ao apontar o pobre repertório de palavras que os alunos dominam hoje em dia, assim como suas dificuldades e deficiências em interpretarem textos mais clássicos.

Há quem diga que Karnal é um ultra-esquerdista radical por criticar insultuosamente a direita conservadora e a família institucional monogâmica. Eu afirmo a vocês com toda certeza do mundo: Não! Karnal não é sequer esquerdista, muito menos radical. O intrigante em Leandro Karnal, contudo, é que em muitos momentos ele se projeta como tal e usa em seu favor certas temáticas que parecem lhes servir como um cartão de embarque para um possível estrelato – visto que hoje em dia defender as bandeiras de classes e oprimidos é requisito trivial para uma projeção popular de sucesso, e pelo visto essa é a única coisa que parece lhe faltar para ingressar no hall do politicamente correto e assim conquistar fama e dinheiro.

Sobretudo, é absolutamente incoerente que alguém com o conhecimento que ele demonstra possuir seja suficientemente ingênuo para defender apaixonadamente bandeiras que demonizem, por exemplo, o período do regime militar brasileiro, fazendo deste um dos mais trágicos e obscuros da nossa história, ao passo que isenta-se intencionalmente de criticar as outras ditaduras apreciadas e enaltecidas pela atual classe política dominante, ditaduras das quais foram muito mais genocidas e totalitárias quando comparadas com a ocorrida no Brasil. Ademais, é absolutamente ilógico que alguém com tamanha capacidade de percepção, avaliação crítica e sensibilidade como ele desmoralize deselegantemente em público uma iniciativa como o Escola sem Partido, chamado-a de “asneira sem tamanho“, ao passo que ignora absolutamente as evidentes influências da extrema esquerda marxista nos programas curriculares nacionais, desde os primeiros anos disciplinares até os mais altos níveis de graduação acadêmica, os quais são responsáveis por prover safras e mais safras de analfabetos funcionais que são anualmente despejados tanto na sociedade quanto no mercado de trabalho – e ele sabe disso! Mas o cinismo de Karnal para por aí, após atacar gratuitamente o Escola sem Partido ele defende logo na sequência que a escola seja livre de imposições ideológicas e aberta para o debate entre as mais variadas correntes e pensamentos, que é exatamente a proposta do Escola sem Partido kkkkkkk…

Talvez essa seja a grande mística de Karnal – pra não dizer desonestidade intelectual e oportunismo –, vender a sua alma em troca de algumas centenas de milhares de autógrafos, conferências, entrevistas e best sellers.

Nicolau Maquivel disse que os homens costumam julgar pelo que veem, mas poucos são os que julgam pelo que sentem. Não sei se o meu julgamento é precipitado, injusto ou preconceituoso, mas foi o que eu senti sobre Leandro Karnal.

12 comentários em “Uma breve reflexão sobre Leandro Karnal.

  1. Ótimo texto. Também tenho o mesmo pensamento, impossível ele, com toda sua bagagem intelectual, ser ingênuo perante a realidade que nos cerca. Assim também penso dos meus professores, e chego a conclusão que não se trata de ingenuidade, mas sim de pura canalhice.

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  2. Ele é de uma arrogância compatível em tamanho com seu conhecimento.
    Foi meu professor da faculdade e é daqueles que eu não sinto saudade. Usava seu conhecimento com uma superioridade atroz, que machucava em inúmeras situações. Em especial por ser cínico e se fazer de surdo. Extremamente irritante!

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  3. em uma entrevista que o Prof.Leandro concedeu a um programa da Globo New “roberto d’avila” ele deixou claro que um dos maiores pensadores que ele tem em seu conceito foi Karl Max. Daí um motivo para ele repudiar tanto a Escola sem partidos.

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  4. Em primeiro lugar, só se combate palestras de auto-ajuda com palestras de auto-ajuda. Em segundo lugar, Vasco. Em terceiro lugar, filosofia é justamente criar polêmica sobre assuntos sem respostas objetivas. Em quarto lugar, a diversidade de informações está disponível para todos, cabe a cada um avaliar e digerir o que for mais coerente com seu ponto de vista individual. Se algumas pessoas que acompanham palestras de Leandro Karnal não têm capacidade própria para criar opinião, seria melhor que ficassem caladas. Pessoas assistem a palestras porque querem e precisam ouvir, ninguém nasce sabendo, mas saber selecionar o que deve ser ouvido é fundamental. Em último lugar, morder e assoprar é uma tática manjada de quem tem medo de tréplica, acusar sem convicção é coisa de quem não tem o que falar. “Não sei se o meu julgamento é precipitado, injusto ou preconceituoso, mas foi o que eu senti sobre Leandro Karnal”.

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  5. Apesar do autor do texto ter feito um diagnóstico de Leandro Karnal tomando como base apenas uma entrevista ao Roda viva e algumas palestras disponível no youtube, ele foi bastante feliz nessa leitura. Porém peca quando afirma, que o Karnal não seja um ultra-esquerdista, mesmo elencando todos os atributos que formam um esquerdopata. O que me leva crer que o próprio autor seja um esquerdistas, que tem o objetivo de desinformar e iludir o leitor, no momento em que um agente importante da causa é descoberto.

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  6. Leandro Karnal é genial. Não acredito que esteja usando essa ou aquela estratégia para angariar fama e dinheiro. Ele simplesmente é um grande conhecedor de história e nos mostra a realidade atual sob essa ótica. Acho que quem escreveu este texto está procurando chifre em cabeça de cavalo. Buscando intenções ocultas, o que há por trás …. Não há nada. Ele diz o que sabe, o que pensa e é um orgulho pra nós brasileiros.

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